Pela primeira vez, cientistas descobriram como recuperar grandes segmentos de músculos esqueléticos humanos, fazendo o corpo aceitar uma matriz biológica de proteínas de porco. Se for bem-sucedida, essa regeneração celular promete uma vida nova a veteranos de guerra e outras vítimas de traumas que perderam mais de 25 por cento de um membro e/ou enfrentaram uma amputação.
O otimismo dos pesquisadores se baseia em uma pesquisa clínica de 20 anos, testes com animais e uma única “cobaia humana”, um fuzileiro naval cujas pernas foram amputadas há sete anos, no Iraque, mas que após uma cirurgia, consegue jogar softball e correr.
“Isso oferece a possibilidade de criar novos tecidos funcionais”, disse Stephen Badylak, diretor-adjunto do Centro McGowan de Medicina Regenerativa da Universidade do Centro Médico de Pittsburgh, o primeiro a aplicar o tratamento em um ser humano.
Badylak explicou que a técnica regenerativa usa proteínas retiradas dos intestinos do porco, que são inseridas no tecido humano danificado. As proteínas atraem as células-tronco humanas, que migram para o membro e começam a criar células ósseas e tecidos compatíveis.
Como a técnica regenerativa usa material “decelularizado” ao redor das células, Badylak afirma que a técnica é capaz de evitar conflitos com o sistema imunológico humano, que normalmente atacaria materiais biológicos identificados como sendo de outras espécies.
A equipe de Badylak agora analisa pacientes de um teste clínico patrocinado pelo Pentágono, que ocorrerá no Pittsburgh e mais quatro centros médicos do país, com 80 participantes. Um outro estudo, também conduzido pelo Centro Médico de Pittsburgh, tentará regenerar tecido ósseo em pacientes com lesões na cabeça, segundo um porta-voz da universidade, usando um “cimento ósseo” especial.
A novidade aqui é a possibilidade de regenerar músculos e ossos, algo jamais feito em pacientes humanos. Badylak e outros pesquisadores estão otimistas com os resultados dos testes bem-sucedidos em animais, mas precisam testar como a técnica funcionará em pacientes que perderam pelo menos 25 por cento do tecido muscular em uma perna ou braço. Outros especialistas na área dizem que ainda é cedo para comemorar, mas concordam que os experimentos são promissores.
“Sabemos que essa técnica funciona com tecido mole”, afirmou Anthony Atala, diretor do Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade de Wake Forest e membro do conselho consultivo científico da Acell, uma empresa com sede em Pittsburgh que fabrica a matriz de proteínas de porco. “A questão é se também será capaz de regenerar tecidos ósseos. Com todas essas tecnologias, temos que pensar em longo prazo e avaliar a funcionalidade dos pacientes”, pondera Atala.
Um paciente que já está feliz com os resultados é um fuzileiro naval de 25 anos, Isaias Hernandez, de San Antonio, Texas. Enquanto servia na perigosa província iraquiana de Al-Anbar, em 2004, Hernandez estava carregando uma televisão até seu caminhão quando um morteiro explodiu. Estilhaços da explosão mataram um homem ao seu lado e cortaram as pernas de Hernandez. A TV de 12 polegadas protegeu a parte superior de seu corpo e provavelmente salvou sua vida.
Hernandez ficou gravemente ferido e perdeu mais de um quarto da coxa direita. Ele passou por mais de 50 cirurgias para reparar o tecido, remover infecções e inserir ou ajustar os pinos em sua perna. Em 2008, Hernandez se ofereceu como voluntário para ser a primeira cobaia humana da nova terapia de regeneração de tecidos de Badylak.
“Eles fizeram um pequeno corte na minha coxa, onde inseriram o material”, disse Hernandez ao Discovery Notícias. “Era como sangue em um envelope.”
Esse envelope era uma matriz celular retirada do intestino de um porco, que cresceu e formou músculo esquelético humano, segundo Badylak. Hernandez é o único paciente humano até agora.
“Sinto-me muito bem. Perdi peso e estou praticando esportes”, disse Hernandez.
Hernandez está de licença médica enquanto aguarda uma segunda cirurgia em Pittsburgh. Ele diz que está tentando entrar em forma para voltar à ativa na Marinha.
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